Encontrar a justa medida no incentivo à atividade física das crianças e adolescentes que acabam ficando num “beco sem saída”.
Enquanto alguns pais passam dos limites exigindo de mais, outros são levados pela enxurrada de informações sem bases científicas e impedem seus filhos de praticar uma atividade que pode ser muito benéfica no desenvolvimento das habilidades motoras das tarefas cotidianas como é o caso da musculação.
A frase mais comum usada como álibi é: “a musculação não é boa para a criança nem pro adolescente porque causa impacto nas epífises dos ossos longos ocasionando a parada do crescimento”. E tem gente que toma isso como verdade absoluta porque um dito importante “fulano de tal” falou.
Uma informação passada de um para outro e não se sabe a origem.
É bem verdade que até na literatura faltam mais trabalhos nesse sentido porém, as poucas não atestam essa afirmação e nem mesmo relatórios médicos.
Uma interessante monografia de conclusão de curso de Educação Física da Universidade de Londrina-PR do professor Andrei Guilherme Lopes encontra-se publicada na Internet.
O seu trabalho concluiu que o treinamento de força em crianças pré-púberes não causou alterações ou lesões epifisárias ósseas.
Orientado pelo Professor Mestre Edson Scolin, foram selecionadas crianças pré-púberes, fase confirmadas por avaliações das pilosidades pubian.
Depois das declarações médicas como aptas ao exercício físico e devidamente autorizadas pelos pais, fizeram exames radiológicos nas articulações do cotovelo e joelho direito.
Em seguida passaram por um período de 4 semanas de adaptação ao treinamento e logo a seguir, 12 semanas de treinamento de força com 80% da carga máxima avaliada pelo teste de repetição máxima proposta na literatura por Roberts & Weider 1995.
Após esse período, as crianças repetiram as avaliações radiológicas seguindo os mesmos procedimentos iniciais.
Comparados os resultados pré e pós-treinamento de força, ficou claro NÃO ter havido alterações das epífises dos ossos longos como “cantam aos quatro ventos” os do contra.
As pessoas que normalmente condenam a musculação para crianças e adolescentes, costumam alegar a questão do impacto biomecânico da atividade, sendo incoerentes nas próprias afirmações recomendando basquete, vôlei, saltos, entre outros esportes com tradicionalmente mais impacto vertical.
Essas atividades realmente são sadia,s mas traduz-se numa afirmação sem lógica condenar a musculação.
Qualquer criança normal corre, salta e arremessa e nem por isso deixam de crescer.
O excesso, a orientação inadequada ou a falta de atividade é que são maléficos às crianças e adolescentes.
Os segmentos do esqueleto possuem diferentes etapas de desenvolvimento assim como a liberação hormonal e o metabolismo é mais ou menos acelerado em casa fase.
A atividade física na adolescência acelera o crescimento longitudinal, a espessura dos ossos, a liberação da testosterona e do hormônio de crescimento.
Esses benefícios são mais evidentes com a musculação.
Fato comprovado e mitos derrubados na literatura por Risso et all 1999, Weineck 1999 e Fleck & Kraemer 1999.
As valências físicas, tais como força, condicionamento aeróbio e a flexibilidade são igualmente estimuladas quando orientadas por profissionais de Educação Física e incentivadas pelos pais.
Claro, não significa que agora as crianças e adolescentes possam sair por aí fazendo musculação de qualquer jeito e alguns critérios são estabelecidos a saber:
- Avaliação médica em primeiro lugar.
- Estar física e psicologicamente preparadas.
- Os equipamentos devem ser adequados ao tamanho das crianças.
- Técnica de execução correta.
- Procedimento de segurança aplicado.
- Programa de força periodizado com evolução lenta, gradual e progressiva
- Mesclagem de forma equilibrada com outras atividades a fim de proporcionar maior oferta de movimentos e habilidades motoras.
Existe também uma orientação básica de evolução de treinamento de força por faixa etária: de 5 a 7 anos, deve prevalecer o domínio do peso do próprio corpo ou companheiro.
De 8 a 10 anos a técnica de levantamentos deve ser priorizada.
De 11 a 13 anos o peso deve ser aumentado de forma gradual com incremento da técnica correta inclusive ao montar e desmontar acessórios.
Entre 14 e 15 anos o programa já pode ser mais avançado para aos 16 anos começar a ficar mais próximo dos adultos.
É importante frisar que nenhuma etapa deve ser, por assim dizer, “queimada”.
Elas podem, caso a caso, até durar pouco, mas não ignoradas.
Enfim, musculação para criança e adolescente é mais um assunto cercado de falsas verdades fomentadas por falsos entendidos.